Português Suave

domingo, 12 de outubro de 2008


Sinopse:

Temos de enfrentar os nossos fantasmas... pelo menos uma vez na vida.

Na década de quarenta, Mercês Perestrello é dada como louca e afastada dos seus filhos. Nos anos sessenta, as gémeas Maria Teresa e Maria Luísa seguem caminhos opostos em busca da (mesma) felicidade. Quarenta anos depois, as primas Leonor e Naná desvendam segredos nunca antes imaginados. São três gerações de mulheres a desafiar os brandos costumes, mas apenas uma a descobrir a verdade.
Num país em que a prudência aconselha a seguir a máxima uma coisa de que não se fala não existe, a vontade de subverter todas as regras irá mudar o destino de uma família.



A Minha Opinião:

Gostei.

Foi o primeiro livro que li da Margarida Rebelo Pinto e gostei de o ter experimentado.

Ao princípio, nos três primeiros capítulos achei confuso, porque no primeiro capitulo é uma personagem que narra na primeira pessoa e no capítulo seguinte é a outra personagem que está na primeira pessoa.

Quem leu os livros da Jodi Picoult, verá que é do mesmo género, estamos numa personagem e depois mergulhamos noutra. Em cada capítulo não diz logo quem é a personagem, só depois de lermos umas quantas linhas é que sabemos. Mas gosto disto, parece um puzzle, vamos encaixando de uma personagem à outra e vamos sabendo desta forma como é que cada uma das personagens sente ou reage.

A escritora escreve “pelos cotovelos” e usa pitadas de humor negro, ri-me com algumas coisas, como por exemplo, «cheguei a um beco sem saída e quando me senti no fundo, olhei para cima e disse para mim mesma: agora vais ter de subir a puta da montanha, quer queiras quer não, senão cai-te um piano, um avião ou uma bomba neste buraco em que te meteste e nunca mais levantas os cornos», realmente é uma linguagem que choca mas é a grande verdade. E não é só… O livro conta muitas verdades que a maior parte das pessoas não quer acreditar ou não gosta de admitir. A sociedade gosta de acreditar as tradições e dar as boas aparências quando na realidade é tudo a fingir.

Este livro é uma espécie de novela familiar da alta sociedade do Estoril.

A Maria Teresa e a Maria Luísa são irmãs gémeas e, contudo, tão contraditórias.
A Maria Teresa é uma mulher “perfeita”, “certinha” ou “correcta”, bem tradicional, acima de tudo, um tipo de mulher que a sociedade gosta de ver e respeitar. Faz bons papéis de esposa, mãe e avó. É uma mulher de cinco estrelas.
A Maria Luísa é a considerada “maluca” a que tem muitos casos ou que não assenta na vida, é portanto mal vista pela sociedade, mas, na realidade, é apenas uma mulher que se apaixonava facilmente e teve muitos azares; esta é que é uma mulher de mentalidades abertas e que tem uma grande sabedoria de Vida.
A Leonor é como a sua mãe Maria Teresa que sonha ter uma família perfeita e estável e a Naná é como a sua mãe Maria Luísa.

Gostei desta família até construí uma árvore genealógica à medida que fui lendo. Fiquei chocada com o que fizeram à avó Mercês e já desconfiava o que a Leonor e a prima Naná iriam descobrir.

Já percebi porque é que os livros da MRP vende bem. A escritora é realista e frontal, retrata bem a sociedade Portuguesa, revela tudo o que está por detrás de toda a perfeição e todas as tradições. Neste livro, há muitas mulheres na nossa sociedade que são como as personagens mas a maior parte delas é como a Maria Teresa que vive dentro de um redoma da perfeição.

É um livro levezinho que se lê num instante, não a considero uma obra-prima mas que prende. A mim, prendeu.


Aqui deixo alguns excertos:

«Uma espécie de paz podre mascarada de conjugalidade de conveniência em que os casais fazem tudo by the book para convencerem a sociedade – e eles próprios – de que vivem uma vida feliz.»

«…o futuro é o engodo para nos anestesiar e nos distrair das tentações do presente…»

«Sinto-me fora da realidade, a viver num universo alternativo, mas não é isso o amor? E se for, não pagamos todos um preço elevado por ele? E na vida, quanto mais não vale um amor feliz, ainda que um dia acabe, do que viver sem saber o que é um amor assim, completo, desenhado a prazer e entendimento?»

«- (…) como diz a Lucía Etxebarría, as únicas famílias felizes são as que se conhecem mal.»

«A felicidade é uma vocação.»



Classificação: 3/5


Outras Opiniões:

Aqui do blog "Tempo de Mim"
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